A Educação do Homem Concreto

Pode-se ler num dos capítulos do Evangelho Segundo o Espiritismo as seguintes palavras (grifos nossos) :

"Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; Instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. "

Qual o alcance das palavras grifadas acima? Como relacionar a instrução, o amor e o cristianismo de forma eficiente com vistas ao sublime objetivo da provação humana, que é a busca pela própria felicidade? E como detectar tais "erros de origem humana" nesse processo?

Para a maioria das pessoas, talvez passe despercebido o tremendo combate que se trava contra os genuínos princípios cristãos, melhor entendidos através do conhecimento do espiritismo, embora este não seja o único caminho possível para isso. O fato é que há em quase todas as instituições idealizadas pelo homem a presença do materialismo, disfarçado sob a capa de diversos nomes que mais fazem distrair a atenção ou confundir: relativismo cultural, socialismo, justiça social, grupos de risco, menos favorecidos, minorias, etc. Palavras cujo sentido se tornou tão elástico que cabe em praticamente tudo o que se quiser. Tal presença do materialismo ora se faz sentir nas idéias e concepções que norteiam a atividade , ora na própria prática ostensiva do desrespeito ao ser humano, às diferenças, quando tal diferença não combina com a forma "politicamente correta" do momento estabelecida por algum ser que se considera superior à maioria. Pior ainda, nossa população, de um modo geral, presa pelos desafios da luta cotidiana para sobreviver, ou então, adormecida pelas promessas utópicas que, acomodando ao menor esforço, fazem perdurar um estado de apatia pela desesperança ou de encantamento pelo "bezerro de ouro" das recompensas imediatas, essa mesma população, não consegue discernir entre o conveniente e o prejudicial à própria condição, quer humana animal, quer humana espiritual. Por exemplo, intoxica-se com alimentos "mercadologicamente modernos" e com hábitos "socialmente corretos". É como se vivêssemos todos um estado de "fantasia infantil", onde enxergamos muito mais pelo prisma dos nossos desejos personalistas do que pela realidade, por mais gritante que seja esta última. Eis as verdades de que trataria o Cristianismo, passíveis de serem falseadas pelo homem: somos seres espirituais em experiências humanas e não seres humanos com experiências espirituais, parafraseando Teilhard de Chardin.

Dorothy Sayers, no seu livro The Mind of the Maker, divide a atividade criativa em três estágios: a idéia, a realização e a interação. Um livro, uma aula, uma exposição, etc, surge inicialmente como uma construção ideal, feita fora do espaço e do tempo, mas completa na mente do seu autor. Tal construção ideal é, no entanto, realizada no mundo do espaço e do tempo através de lápis, caneta, papel, etc. A criação está completa quando alguém lê o livro ou assiste a aula ou a exposição, de alguma forma interagindo com a mente do criador.

O ser humano ao pensar pode construir teorias sobre as coisas e fatos, sobre os acontecimentos incluindo a si mesmo nisso. Daí, o aparecimento de "sistemas de idéias", sempre com as marcas dos seus idealizadores. Mas, chega uma hora que terá de parar de somente pensar e, vejam só, viver. Poderá então tentar realizar suas idéias e descobrir que sempre falta algo que escapou à sua percepção inicialmente. Ou poderá insensibilizar-se aos fatos, perdurando o estado de fantasia, agora já alienante, distraindo-se na construção de novas idéias cujo único efeito será o de reforçar as idéias originais, que agora se tornaram crenças. Para nós, criadores humanos, o caráter incompleto e as inconsistências das nossas idéias só se mostram a partir do momento que tentamos realizá-las.

Numa síntese do que viemos considerando nesses últimos dois anos, procuraremos neste presente ciclo de atividades, precisar melhor como podemos atuar para minorar o efeito do materialismo que corre solto em diversas instituições da sociedade atual, destacando não as diversas concepções teóricas relacionadas à pedagogia ou psicologia, mas ao mínimo aparato instrumental que desejaríamos poder desenvolver e usar para
  1. identificar tal situação e
  2. minorar seus efeitos em nós e na parte da realidade na qual nos vemos capaz de agir.
Outra finalidade não vemos para a Evangelização, como legado do próprio Jesus ao advertir:

"Instruí-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos mostra o sublime objetivo da provação humana"

Para tanto, desenvolveremos, ao longo do ano, o trabalho pautado nos seguintes tópicos, intermediando-os com práticas que julgamos capazes de auxiliar na aquisição do instrumental referido acima.

Objetivo
Introdução
  • O homem concreto
  • A proposta da evangelização
  • Justificativa
  • Subsídios para o cristianismo, a religião do homem concreto
  • Metodologia: "conhece-te a ti mesmo"
Subsídios Teórico-práticos
  • Etapas do conhecimento no sujeito que aprende
  • Os limites da reflexão
  • Abusando da imaginação
  • Fundamentos de qualquer metodologia educativa
  • A BUSCA INCESSANTE DA VERDADE: Desenvolvimento da Clarividência Espiritual
  • E os obstáculos?
  • À medida que o Espírito ascende, percebe sua manifestação e extasia-se com isto.
  • A importância do debate para a refutabilidade das "crenças" que construímos (ideologias)

Um sumário (esquemático apenas) dos tópicos a serem tratados nos encontros podem ser vistos aqui.

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